08.10 - Malta
Saindo do quartinho hoje de madrugadão pra embarcar às 7:30 pra Malta, um pequeno carinho do cara do estacionamento, nos levou de van até o aeroporto. Não era longe, mas carona é que nem felação: nem de mulher feia a gente recusa (variação sobre o tema de uma frase de um antigo paciente meu: "um copo de água e uma mamada não se recusa a ninguém"). Mal sabia o cara que, em retribuição pelo ato de gentileza, eu havia quebrado o condicionador de ar do quarto, tentando pendurar nele o saco de supermercado com as bebidas compradas para o jantar, pra ver se ficavam mais geladinhas. Não adiantou porra nenhuma, e, ao tentar desenganchar o cabide do flap, este foi engolido pela máquina, fazendo um monte de pedaços de plástico voarem longe e deixando o aparelho com um som muito esquisito, como se estivesse soltando um peido contínuo.
No aeroporto, finalmente o que temíamos aconteceu: a mocinha estava lá no portão de embarque mensurando as dimensões das bagagens, e me parou, exigindo que eu enfiasse lá na cavidade e dizendo que só poderia me deixar passar se entrasse tudo. Ainda que, em se tratando do tamanho de meu volume, caber tudo fosse coisa improvável, como recusar uma intimação como a dela? Enfiei com força e determinação, fiz entrar na marra e com resoluta violência, e recebi em troca a surpreendida aprovação da aeromoça.
Finalmente, em Malta, o inglês é bem corrente, as pessoas na média são mais simpáticas do que boa parte dos cavalos italianos, e a arquitetura começa a ficar diferente, com mais cara de Oriente Médio e um quê de Inglaterra, principalmente nas varandinhas fechadas de madeira protruindo dos prédios de pedra. A cidade é toda monocromática, em pequenas variações de tom de bege das pedras. Aquele adensamento de predinho grudado em predinho grudado em predinho sem fim existe aqui também, mas o comércio nos térreos tem lojas mais modernas, vitrines mais bonitas, dá uma rejuvenescida na cidade... Há muitos migrantes e, claro, turistas, mas o maltês médio é mais moreno, com traços mais árabes ou magrebinos.
No horário do almoço, encontramos um recital que era recital mesmo, com um barítono e uma menina num teclado apresentando canções de musicais. Em troca de uma "doação" à igreja de 10 euros por cabeça. De doação, enquanto ato voluntário por definição, não havia nada, era eufemismo pra pagamento mesmo. Me incomoda imaginar que minha suada graninha possivelmente venha a acabar sendo usada para comprar sabonete para lavar a piroca do padre depois de cometer alguma indiscrição pedofílica com aquele coroinha de cabelinhos encaracolados e olhar angelical.
E cantor lírico apresentando canções é aquela coisa, tudo fica empostado, frequentemente engrolado, o objetivo é demonstrar todo seu virtuosismo e fodonice vocal, e não simplesmente cantar legalzinho a música. A menina tocava tensa, encolhida, aparentemente correta, mas pouco à vontade ali ao lado do cara. Em minha lida de cantor, um dos muitos problemas a administrar são os esses na gravação, que dão um trabalho do cacete pra suavizar. O cantor, pelo contrário, fazia questão de terminar toda e qualquer palavra em que eles existissem com longo e forçado "ssss". Caralhosss.
De resto, é aquela coisa: de graça só o sol andendo na minha tez já positivamente bicolor. Em tudo custa pra entrar, e boa parte dos museus nem têm uma fachada memorável, porque estão no interior de um dos predinhos padrão mesmo. Então, nem mesmo passar na frente serve pra muita coisa.
Voltamos caminhando uma longa distância, de Valletta até Kalkara, desta vez conseguimos ficar longe do centro e do aeroporto, Malta é cara. As cidades são pequenininhas, conurbadas, com cara de bairros de uma grande cidadezona maior, então posso dizer que só hoje conheci uma meia dúzia de cidades diferentes em um único dia. Com mulheres, conto nos dedos da mão do Luis Ignácio o número de vezes que isto aconteceu.