15.10 - Epílogo
Pronto, acabou, mais um capítulo escrito com um pincel de pêlos de barba branca neste longo e tedioso livro do outono de minha alma. Mais aviões que não caíram, nenhum terrorista me esfaqueando em grande estilo à sombra do Big Ben, mais uma vez não explodiram uma bomba atômica aqui por perto pra encher o meu banhoso rabo de radiação letal.
Quase 40 dias com o jejum e o exercício parados para poder aproveitar as férias, recobrando a pança e a flacidez que passo a vida combatendo. Agora retomo o jejum e aqueles polichinelos mongos, pra perder as gorduras que ganhei e poder nas próximas férias acumulá-las todas de novo, nesta despropositada espiral que, se não é infinita, ao menos não tem dado mostra nenhuma que está pensando em se encerrar.
Alguns recordes desta viagem: não fomos uma única vez ao cinema, pra pagar em euro ingresso inteiro pra ver algum filme que daqui a duas semanas vai estar na Netflix mesmo. Em que pese o infame coperto italiano, não demos uma única gorjeta, em nenhum restaurante. Na australian tour 2, provavelmente tomei mais sol do que agora, mas era sempre todo lambrecado de filtro solar. Aqui foi na cara limpa, e até esperava ter ficado mais ardido do que fique de fato. Os banhos de mar, há décadas inexistentes em minha vida. Trouxe poucas roupas na mochila, e, se tivesse querido precarizar ainda mais, teria dado pra trazer uma cuequinha ou um parzinho de meias a menos.
Nenhuma grande merda ocorrida na viagem inteira. Sem dores ou obturações perdidas, no máximo as chuvas, alguns atrasos de trens e gastos que poderiam ter sido evitados. Provavelmente é também por causa dos recursos adicionais oferecidos por um celular e internet dentro do bolso, e não apenas consequência desta velhice que a tudo arrefece e acinzenta, mas já me percebi em outras ocasiões muito mais cagão e preocupado com montes de aspectos logísticos do que desta vez.
Lições não digo aprendidas, mas rememoradas dolorosamente, são de não viajar para lugares quentes ou em durante a alta, ou, no caso, média, temporada, quando os turistas ainda infestam as cidades mais do que moscas sobre bosta. Uma terceira seria tentar evitar lugares caros, mas, com a inflação global pós-covid e o Luis Inácio desvalorizando o dólar a cada vez que abre a boca, não sobram muitas opções acima da linha da República Democrática do Congo.
Tá, acabou. Amanhã retomo o que? o doutorado? Não, as músicas!