12.10 - София


Ah, a Bulgária... Terra dos antepassados da Dilma,  mas também da Eva, uma colega de cursinho na qual eu era ligadão, só menos do que na Cleopatra, que tinha ascendência romena e por quem eu era absolutamente tarado. Longíquo tempo em que a maior preocupação era esconder aquele inopinado volume na calça que às vezes se manifestava à minha revelia, e não pensar em como esconder as rugas na face tão perceptíveis em cada foto.
    A Bulgária foi o primeiro lugar onde experimentei a horrenda sensação de analfabetismo. Foi pouco depois de terem se aberto para o ocidente, uma época de bem menor globalização e na qual inexistiam os telefones celulares ou alguma internet significativa. Em que pouquíssimo inglês se falava aqui e absolutamente nada era escrito em alfabeto latino ou tinha a tradução em inglês embaixo.
Lembro da dificuldade para conseguir tomar um ônibus do aeroporto até o centro da cidade, e até mesmo me orientar de lá até o hotel, ou caminhando pelas ruas, provavelmente com um mapa de papel nas mãos, com as palavras latinizadas, e sem conseguir fazer a equivalência para o cirílico. A singeleza de um país pobre, mas sem aquela miséria subsaariana, me agradou, e me trouxe umas tantas outras vezes ao leste europeu.
Hoje retorno a Sófia, e encontro um metrô nos levando do aeroporto à porta do hotel. Praticamente tudo tem a lengenda em inglês escrita embaixo, como no Brasil apenas agora começa timidamente a ocorrer. Com as lojas mais cosmopolitas ou mauricinhas, nem sequer escritas em búlgaro as coisa são, e até as tiazinhas mais velhinhas ou balconistas mais humildes em geral arranham algum inglês, tornando uma comunicação razoável possível.

Os preços, em contrapartida, também seguiram a mesma tendência. O que antes, se lembro bem, era muito barato, agora, convertendo pra reais, parece já um tanto mais caro do que se pagaria em São Paulo.

Finalmente, no pacote desta corrida, rolou ganhar uma camiseta. E uma garrafa de isotônico. O percurso é, mais uma vez, aquela coisa meio nas coxas: duas voltas de 21 km, e nem é um trajeto circular, mas praticamente uma retona, ida e volta numa mesma longa rua. 

Pelo preço pelo qual, no Brasil, fajutando meia entrada e sentando láááá atrás, eu pago pra assistir um musical, fomos ver um quarteto de músicos romenos. Metade do teatro reservado para os convidados da embaixada daquele país, uma formação estranha, violino, viola, piano e clarinete, repertório que incluía Shostakovich e Piazolla, mas as músicas mais interessantes mesmo foram as de compositores locais. Fim de viagem, paciência, um pouco de pé na jaca é aceitável...

A viagem vai terminando bem. Depois de tanto calor e sol na cabeça, pele toda ressecada, soltando aquele pozinho de células mortas, volto para o hotel hoje passando frio, 12 graus. 

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