06.10 - Siracusa

O dia começou com uma vingança. Com minha sacolinha e minha alma que é um poço de mágoa e bile borbulhante, entrei triunfalmente na sala do café da manhã e comecei a embolsar os vários pães e doces já disponíveis, enquanto tomava café, enquanto embolsava capuccino dentro de uma garrafa de gatorade, despejado da xícara e fazendo uma meleca gigantesca em cima do prato e da mesa do restaurante. Que se foda, o café desta manhã eu havia pago, não?
No final, só o que comi enquanto, mastigando, mocozava comida na sacola, já teria bastado como um razoável desjejum, mas acabamos tendo comida suficiente pra ainda seguir empurrando pra dentro do pandú a viagem inteira até Siracusa, e ainda um troco pra comer de sobremesa hoje à noite.

Siracusa, a terra de Arquimedes. E nenhum bar ou restaurante ou lojinha por aqui se chama "Eureka!" Provavelmente foi só mito mesmo a exclamação do célebre pederasta, assim como sua tumba, que visitamos esta tarde, cuja plaquinha explicativa diz com toda a clareza se tratar de fake news, e que o rapaz não está de fato enterrado lá.

Cidade bonitinha, com mesmo os pontos de interesse distantes alcançáveis a pé sem muita exorbitância. Infestada de turistas, como tantas outras nesta viagem. O que faz com que acabe tendo sucessões intermináveis de restaurantes, bares e lojas vendendo ímas de geladeira, mas poucas coisas mais cotidianas, como supermercados. Aqui voltou a bater forte a memória que eu tinha de outras passagens pela Itália, a de não encontrar nada além de precários mercadinhos para comprar o jantar, porque o almoço já havia sido muito caro.

Exatamente o que aconteceu hoje, aliás. Topamos uma formule de um restaurante chinês pelo caminho. Dois rolinhos primavera, 12 gyosas e um prato de macarrão com carne, teoricamente uma refeição para dois. Tudo minúsculo e criteriosamente medíocre. Com mais uma coca, saiu por 22 euros.

Mas pelo menos, depois de mais um fiasco gastronômico, pela primeira vez na viagem, demos sorte pra valer. Coisas como os foros romano e grego, a Orelha de Dionísio ("-o que é isso, Aderbal?" "-Vai pesquisar, preguiçoso".) ficavam dentro do complexo arqueológico da cidade, não simplesmente ali do lado, abertos a quem quisesse ir vandalizar desimpedidamente. A 16,50 euros por pessoa, mas grátis no primeiro domingo do mês... que foi hoje!

No finalzinho do dia, ainda mais uma molhada de bunda numa minipraia de cascalho local, e a pizza padrão que todo restaurante parece ter a 5 euros, De queijo e mais nada, nem mesmo uma respingadinha de molho de tomate. Pedida pra viagem, para não termos que pagar coperto.


Postagens mais visitadas