01.10 - Amalfi, Positano, Sorrento
O que o café da manhã do hotel de Olbia tinha de caprichado, o daqui tem de vagabundo. uma bandeijinha deixada na quarto com um croissant, una torrada, uma geléia, uma cápsula de café, e aquele abraço.
Hoje foi dia da caminhada mais desafiadora, também mais bonita até aqui, de Amalfi a Positano, sem abrir mão das pirambeiras e daquele chão de pedras horroroso, mas com uma vista fenomenal. A elevação em Ston, já bem sofrida, não passou de 135 metros. Aqui, encaramos umas 8 vezes isto.
Para chegar a Amalfi, o caminho possível era um trem até Salerno, e um ônibus a partir de lá. Ao comprar o bilhete de trem na maquininha, o menor preço era 19 euros por cabeça. Estranhíssimo para uma distância pequena, mas o que fazer? Logo depois de comprar aquela merda, vi numa maquininha próxima bilhetes para o mesmo destino, por 5,50. Havíamos comprado assentos no trem de alta velocidade, e não tinha devolução possível. Devido a algum problema na ferrovia, ainda houve um atraso de 70 minutos, fazendo esta ter sido a mais lenta viagem para Salerno da história, num trem rápido.
O ônibus para Amalfi saiu lotado, com gente se apertando em pé pelo corredores, o que já me pareceu estranho para padrões europeus. O percurso, de coisa de uns 20 km, levou mais de hora, por causa de ônibus, carros, motoqueiros, ciclistas e gente a pé, como seríamos também nós logo mais, disputando estradinhas sinuosas minúsculas, escavadas na montanha, sem qualquer espaço lateral e no mais das vezes permitindo a passagem de apenas um veículo, em uma das mãos. Nas curvas mais críticas, agentes de trânsito ficavam tentando administrar as travas que a situação frequentemente ocasionava.
Em Amalfi mesmo ficamos pouco, menos do que um espermatozóide no epidídimo de um ejaculador precoce, só passamos pela rua principal e por aquela profusão de turistas e os ônibus que lá os despejavam. O caminho era longo, uns 20 km, e lento, devido à elevação, sinuosidade e irregularidade medonha do terreno, já estávamos 70 minutos atrasados, e 40 euros mais pobres, e não queríamos ficar lá perdidos do meio do nada no escuro.
O mesmo com os diversos vilarejinhos ao longo do caminho e mesmo Positano, bizarramente exótica em sua verticalidade, só aquela lambida e seguir viagem. Não que houvesse muito mais pra fazer por lá além de comer em lugares lotados e comprar cacarecos para turistas.
O caminho, seguindo as trilhas do aplicativo, uma delas a oficial Setiero degli Dei, por causa da altura, algumas vezes deu em lugar nenhum, a pior delas, conosco embrenhados uns 200 metros adentro num matagal fechadíssimo, cheio de coisas espinhentas, que cobraram seu preço a meus tênis e minhas pernas, e me tornaram, finalmente, a esta altura de minha vida, como se estivesse numa sauna gay mediterrânea tropical ao ar livre, um homem coberto de picão por todo o meu até agora cocento corpo.
A volta seria por meio de mais um ônibus, até Sorrento, e de lá um trem para a porcona Nápoles. Os ônibus passavam de meia em meia hora, vindos de Amalfi, já lotados dos pestilentos turistas também tentando voltar a Sorrento ou Nápoles, e nem paravam no ponto. Nada a fazer, segundo os locais, senão esperar o próximo, e já havia gente esperando havia duas horas e meia, sem conseguir entrar em nenhum.
O último ônibus passava às 9 da noite, o último trem saía às 10 para Nápoles, e depois era bater a cabeça no mastro do ponto e chorar. A alternativa seria um táxi, que para cobrir os 17 km até Sorrento, cobrava 120 euros, se aproveitando do desespero alheio, levando no máximo 4 passageiros.
Perdido o primeiro ônibus, conseguimos embarcar no segundo, semifurando a fila, por sorte de uma discussão forte entre uma das italianas que há duas horas não conseguia embarcar, e o motorista, que fez questão de nos deixar entrar, e a um casal de ingleses de alguma minoria étnica esquisita, agressivamente barrando acesso àqueles que lhe haviam levantado a voz.
Demos uma passadinha cansada e pouco interessada por Sorrento, jà às quase 9 da noite. Pareceu bem pouco memorável, assim como nada digno de nota achamos para comer.
Escrevo estas diletantes palavras sentado no chão de um trem também lotado, a caminho de Nápoles, e que é um pinga-pinga infernal em todas as 38 estações entre as duas cidades.