30.09 - Napoli
A viagem para a Sardenha pareceu tão decente, supúnhamos coisa semelhante na volta, apesar do horariozinho ingrato, meia-noite às 14:30... Depois de um dia inteiro com a alma pustulando de tédio, ainda amargar mais uma manhã e metade da tarde morgando naquele navio parecia cruel...
Mas fica pior. Os portões para o embarque, que deveria ter sido abertos às 22:00, só o foram meia hora depois, então mais tempo ainda aguardando, tentando desencravar o saco de dentro da própria bunda de tão inchado, com um imbecil fumando um charuto ali do lado.
No navio, a descarga do banheiro da cabine era muito temperamental, às vezes funcionava, às vezes passava horas em coma. E sabemos que olhar pro o cocô do outro transforma qualquer relação, de uma vibe Tarcísio-Nunes em um lance assim mais Silvio Almeida-Anielle.
Pra combinar com um filme dos Caça-fantasmas que estávamos assistindo, o ralinho do banheiro em intervalos aleatórios começava a borbulhar, e, ao longo do período da viagem foi emitindo um cheiro de podridão sulfídrica cada vez mais nauseante, a ponto de, no fim da manhã, arder os olhos de quem lá entrasse.
Um pulinho nos banheiros das áreas comuns do navio evidenciou que o esgoto de nossa cabine não era uma excessão:
A merda do barco ainda atrasou meia hora para sair, então acabamos chegando em Nápoles só umas 15:15.
O hotel, mais um daqueles lugares fantasmas, em que se ganha os códigos pra abrir as portas, e não se vê uma viva alma ao longo de toda a estadia. No caso deste, os códigos nem foram enviados em tempo adequado, tendo sido necessário ligar pra um telefone escrito ali na porta pra avisar a tia que havíamos chegado. Se eu estivesse viajando sozinho, com meu planinho bosta de celular basicão sem roaming, estaria sentado aqui no chão com a mão na cabeça chorando até agora.
Deu tempo de chegar à free tour, que hoje, pelas draconianas regras estabelecidas, teria que ser paga. Um cara com um inglês engrolado, incompreensível, uma postura de piloto automático, vomitando aqueles fatos de sempre sem qualquer noção de desfrute ou envolvimento. Numa parada para uma água, fomos até ali do lado comprar um sorvete, e, quando voltamos, o grupo já havia desaparecido. Não fez muita falta.
Nápoles é de fato aquele nojo: feiosona, malcuidada, com um bom tanto de moradores de rua, montes de lixo pelo chão, faixas de pedrestre sem semáforos, tudo na base de meter a cara e torcer pro motorista frear e, coisa comum na Itália mas que, na Sardenha, não havíamos visto: aquela infestação de motinhos e lambretas fazendo barulho e tirando finas dos pedestres pra cima e pra baixo, em níveis quase taiwaneses.
Também a cada 3 metros se tropeça em uma igreja ou pizzaria por aqui. Jantamos em uma, com 15% de serviço já incluídos na conta, sem choro.
Quando se está cansado de fazer algo, descansa-se. Mas e quando se está cansado de não fazer nada? A resposta "descansar fazendo algo" não é assim tão evidente ou bem-sucedida. Apenas agora estou começando a me recuperar daquele desalento da alma causado por dia e meio de fazer nada, e vendo algum potencial de envolvimento com o dia de amanhã.