29.09 - Olbia/Cagliari

Dia de brutal desespero com o tédio! Em outros, perdidos devido ao mau planejamento, pelo menos estamos fazendo algo, que náo dá certo. O de hoje foi o exato contrário disto: Tudo aconteceu direitinho conforme o planejado, e tudo era nada.

Depois de acordar cedo para o café da manhã, ficamos fazendo hora até termos que sair do hotel, às 10:00. Tomei um banho adicional não porque minhas partes pudendas necessitassem especificamente de ensaboamento, mas simplesmente pra matar algum tempo.

Então, ficar flanando pela cidade, com a mochila pesadíssima, lotada de toda sorte de alimentos que nos foi possível roubar do café da manhã do hotel ao longo de dois dias, até às 2 da tarde, quando saía o trem. Quatro horas pulando de banco para banco do parque da cidade, ocasião em que fui mais uma vez visitado pela musa e pari mais um parnasiano poeminha. Que só me distraiu por coisa de meia hora:

SONETO DO AGUARDO

A vida demora no compasso da espera,
O tempo pára e nada acontece.
Uma hora se vai, acabou-se, já era,
Tanto faz, é como se outra viesse.

Dou mais doze coçadas na bunda,
E trinta e nove ajeitadas no saco.
O banzo do aguardo só se aprofunda,
Nada se move no nada do vácuo.

As unhas dos dedos como na dentada,
Arranco toda a barba de meu rosto,
E o trem ainda nem chegou na estação.

No nariz cutuco uma catota colada,
Ponho na boca e sinto-lhe o gosto,
Indeciso entre comê-la ou não.


Mas depois piora. Embarcados no trem, mais 4 horas de tédio numa poltrona não-reclinável do vagão, que foi enchendo a cada parada, até lotar completamente, forçando meus joelhos a ficarem se roçando com os de um formoso rapaz sentado em minha frente, sem nem conseguir mais apoiar os pés naquele assento.
De volta a Cagliari às 6 da tarde, novo período de encheção de linguiça com mochila nas costas, até a partida do navio, à meia-noite.
O restaurante em que nos programamos para comer só abria às 19:00, então uma hora esperando num banco de praça, assistindo a seriado no tablet. Depois de um jantar apenas correto e um sorvete pago por fora, às 21:00 já estávamos na área de espera do porto, aguardando sermos levados a um navio que só abriria às 22:00. 
E agora são mais 14 horas e meia de viagem. Sem água potável.

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