26.09 - Sassari
De Cagliari acho que deu justinho, dois dias na cidade foram de bom tamanho. Eu temia que a rede ferroviária aqui na Sardenha fosse mais precária, sei lá por que me vinham à mente imagens de marias-fumaças. A malha é modesta, mas o trem tomado hoje para Sassari era moderno, limpinho, pontual, com um banheiro super high tech, não caro.
Sassari, em compensação, na comparação com sua irmã maior, é uma destas Presidentes Venceslaus que existem aí pelo mundo... Pequenininha, parada, com a meia dúzia de coisas semidignas de serem vistas todas cabendo num raio de uns 3 quarteirões. Sua principal atração, uma fonte meia-boca, escondida num terreno baldio malcuidado e nada frequentado.
Parece uma cidade de vampiros... Às 14:00, quando chegamos, todos os estabelecimentos fechados, portas baixadas, nada acontecendo... Mais para o fim da tarde, as portas começam a se abrir, os restaurantes a se iluminar, e a cidade ganha alguma razoável vida.
Até por não ser um porto, com atracamento de navios de cruzeiro, é uma cidade beeeem menos turística. Ao contrário de nossos destinos na Croácia, onde era necessário competir por ar respirável com as inúmeras catervas de outros visitantes, aqui basicamente a interação é apenas com os locais mesmo. Ao contrário de praticamente todas as outras cidades até o momento, aqui achei que estaria livre do desprazer de estar andando pela rua e escutar o velho português, com azar carioquês, na orelha. Então encontramos uma apresentação de um violonista clássico pro começo da noite, fomos lá contentões fazer programação cultural gratuita... e o repertório era... Villa-Lobos!
Não tem jeito, brasileiro é que nem chulé em pé de jogador de futebol, onipresente!
Convocado então pela musa, não a Ana Paula Arósio, que só me inspira os mais libidinosos pensamentos e o certo tom chauvinista do meu eu poético destes blogs, mas aquela outra, que não tem nome nem substância mas inspira minha produção artística, resolvi marcar a ocasião com uns singelos versinhos:
POEMA DO EMPESTEAMENTO
Brasileiro é uma praga,
De que só pernilongo gosta.
Cada vez que a gente caga,
Sai um junto com a bosta.
No esgoto, no canal uretral
Na gradinha do bueiro.
Ou nos dejetos de algum animal,
Sempre tem um brasileiro.
Defecado ali no chão,
Ou no sovaco de um rato.
No rabo fedido de um cão,
E na sola do nosso sapato.
No escarro de um porco doente,
Na catraca, no vagão do metrô.
Na cárie do último dente,
Na nhaca ao fazer um cocô.
Na macarronada com pancetta,
Vomitada em plena na sarjeta,
Você pisa e sabe pelo cheiro,
Que tem por perto um brasileiro.