25.09 - Cagliari
Primeiro hotel com café da manhã incluso. O que pra mim não faz tanta diferença, não acordo com apetite para encher o pandú a ponto de economizar o almoço, e acabo comendo meio empurrado, protocolarmente, meio assim como a gente come a patroa de longa data todo terceiro domingo do mês à tarde, com a TV ligada, pensando no personal trainer.
Dentre várias latas com café solúvel empedrado de tão velho, uma tinha um pó de capuccino ainda razoavelmente soltinho. Depois de duas xícaras daquilo e um biscoito champagne também meio murchinho, com uma cara de Marina Silva, as portas do inferno se abriram ali onde até há pouco haviam sido minhas nádegas. Tive o mais instantâneo piriri de minha existência, com múltiplas e reiteradas idas ao troninho, com downloads sucessivamente mais humildes, até que era como se eu estivesse evacuando tipo assim um espresso de fezes, aqueles dois insatisfatórios dedinhos, que contudo haviam custado o preço de uma cólica inteira. Mas, assim como veio, o desarranjo se foi.
Já antevendo o que me aguardava hoje, escanteei a calça e já saí todo cariocão, de calção, para passar o dia sendo inclementemente seviciado pelo sol da Sardenha, em nosso passeio até o topo do paredão de montanhas que se ergue a oeste da cidade, a Sela do Diabo. Com passagem pela marina, calçadões distantes e desertos, uma praia até que com uma cara e estrutura bem decente para padrões não-brasileiros, mas, principalmente, vasto percurso por trilhas praticamente inexistentes, no meio do mato daquela vegetação de montanha, perdidos enfronhados naquele enorme lugar nenhum. Se tivéssemos rolado num daqueles precipícios em direção a um vale ou ao mar (coisa que minha supervisora da liberdade condicional até fez, em menor escala) provavelmente eu só seria encontrado depois de minha odienta irmã já ter herdado minhas humildes economias, sem que eu tivesse tido tempo de destiná-las aos Médicos Sem Fronteiras para evitar mais este parasitismo por parte do animalzinho. Mas que beleza é ter um celular na mão, com um aplicativo com trilhas demarcadas e um GPS com a precisão de alguns metros, possibilitando uma caminhada pelo meio do nada selvagem, coisa que o Pablo Marçal não foi capaz de fazer quando levou um monte de discípulos reaças pra se perderem no Pico do Jaraguá.
No caminho de volta para o asfalto, passamos por uma daquelas enseadinhas de 20 metros de pedras e pedregulhos que são tomadas como prainhas, percebemos bem quão isolada e difícil de alcançar, com um monte de tiozinhos (mas nenhuma menininha...) nudistas!
Escapa à minha frágil razão por que alguém quereria ficar peladão num local tão pouco macio como aquele monte de cascalho, tomando sol na piroca branca até ela ficar toda ardida, se não com um carcinoma basocelular. Mas, se resolvem ver sentido nisto, por que só os homens? Onde estavam as meninas nudistas hoje, meu bom Deus?
Depois de um dia inteiro levando sol no lombo, resolvemos entrar numa outra prainha, esta careta, e com algo mais semelhante a areia em seu chão, encontrada no caminho. Não volto atrás em minha impressão de que ir lá dar uma entrada no mar é uma coisa meio boba, mas, considerado o o contexto, confesso que achei bem refrescante.
Não sinto os braços ou pernas (a cabeça, meu chapéu de bruxo protege em) tão queimados quanto temi que ficariam. Vamos ver amanhã.