22.09 - Ston

Minha mais dickensiana maratona hoje: a melhor de todos os tempos, a pior de todos os tempos! 
Que não reste dúvida: não é uma corrida séria. Depois de subir e sambar e descer 135 metros de escadarias de paralelepípedos irregulares, achei que a modinha teria se consumado e que o resto da prova seria mais tradicional, mas me enganei. 42 km de subidas e descidas, a maior parte em asfalto mas também um bom pedaço em pirambeiras de pedregulhos. O único trecho em que o percurso foi plano por uns 2 km foi exatamente um destes, uma picadinha no meio do mato, de cascalho, e com vasta profusão de pedras a serem chutadas pelo caminho.
Devido às idas e vindas do trajeto, pude contar todos os maratonistas, éramos apenas 32. O resto dos trezentos e pouco fizeram só 15 km, ou menos. Terminei em vigésimo-terceiro, reprisando o desempenho medíocre que parece ser agora meu novo normal, com cada vez mais anos enterrados em minha bunda. Com um terreno tão íngreme e pedregoso quase todo o tempo, tempo de finalização de prova não significa nada. Às 4h20 da maratona da semana passada, ainda me faltavam 8km para encerrar esta. Mas fechei esta em 5h15, o maior intervalo que já corri em toda minha lastimável existência. 

Não havia marcação de quilometragem ao longo do trajeto (imagino que os cartazes corriam o risco de deslizar pelo desfiladeiros ou de cair ladeira abaixo), e cada pessoa dos postos de hidratação a quem eu perguntava que distância já havia cumprido ou não entendia nada do que eu estava falando ou dava um chute completamente tirado da orelha. Nos postos, o isotônico finalmente tinha sabor de alguma coisa, mas nada de alimentos mais calóricos ou barrinhas de alguma coisa energética. Apenas bolachinhas, bananas e... torrões de açúcar!

Banheiros químicos ao longo do caminho? Zero. Pra que, né, com tanto matinho ao redor? E como Aderbal é um tiozinho safo e precavido, não deixou de pegar um bom estoque de papel higiênico, para uma eventualidade...
Até que quando, apesar de ter iniciado a corrida em jejum, esta se apresentou, e procurei ali um cantinho escondidinho para fazer aquela catarse fecal, pus a mão no bolso e percebi que o pacote não estava mais lá, havia caído em algum momento da cachoalhação desviando dos paralelepípedos.
Como já era tarde demais para abortar a movimentação das tropas retais, nada senão me restou senão correr todo o resto da prova com meu busanfã melecado de algo além do tradicional hipoglós. E minha cueca novinha, estreada nesta viagem, que até ontem era mais branquinha do que as namoradas do Ronaldo Fenômeno, agora exibe uma orgulhosa nódoa amarelada, que não consegui fazer desaparecer completamente nem depois de zerar um tubo de xampu cheio aqui do banheiro do hotel.
Como dar merda apenas no sentido literal raramente basta para aquele grande sádico lá no céu, também ao iniciar a prova percebi que meu sonzinho havia se descarregado, e acabei correndo sem música ou audiolivros. Há muitos anos não corria ou treinava sem escutar alguma coisa, achando que simplesmente correr por quatro horas e tanto seria mais tedioso do que meu saco teria complacência para absorver. Mas, de certo modo, foi até interessante. A corrida não pareceu se arrastar mais por causa desta falta, e o maior contato com o som da minha respiração e de minhas passadas, além de não ter algo mais competindo por minha atenção me fizeram me sentir mais inserido na experiência. Até porque, eis a parte boa: em que tenham pesado todos estes percalços, a paisagem do percurso foi um deslumbre!
Passei a corrida toda achando que, se eu quisesse fazer uma rabdomiólise em minha vida, esta seria finalmente minha oportunidade. Mas, curiosamente, não terminei esta prova mais arrebentado do que as outras, apesar da exigência muito mais insana às minhas pernas. Depois de um resto de dia de absoluta morgação, porque não tem absolutamente nada mais pra se fazer neste cu de mundo, vamos ver quão entrevado acordo amanhã. Por ora, deu até pra sentir um gostinho de ser morador lá da Vila Missionária, e pendurar a cueca borrada no varal!

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