18.09 - Split

Mais um vez, não deram muita bola pra mochila superdimensionada no aeroporto. Afortunadamente, porque, exceto pelos bichinhos de pelúcia, o tamanho e conteúdo dela permanece o mesmo mas, se no primeiro voo, eu havia conseguido, com algum esforço, como se fosse em uma mulher menopausada, fazê-la entrar no quadradinho de verificação das dimensões aceitas, desta vez nem encarnando um Silvio Almeida cocainado e sentando a mão com gosto teve jeito de botar pra dentro. 
Saímos de refrescantes 12 graus em Helsinki, pra chegar aqui com 22. Mas não só o clima é piorzinho aqui na zona leste da Europa. O ônibus do aeroporto pra cidade, apesar de custar não insignificantes 4 euros, é de linha, local. Cheio de gente em pé no corredor e fazendo paradas a cada 32 metros, tendo feito um percurso de uns 16 km levar uma hora.
A chegada na cidade não me deixou boa impressão. Pareceu uma destas cidades de praia, largada, sucateada, sem encanto, mais pra Boqueirão do que pra Guarujá. Mas depois, chegando mais perto da região central, vão aparecendo as construções mais antigas, e a cidade vai ganhando personalidade.
No almoço, coisa que não fazia há anos, desde minha yugoslavian tour, em 2018, voltei a comer bureka! Eu escrevi bureka, seus depravados. A quase homônima, faz um pouquinho menos de tempo.
E nem em meus mais insanos delírios febris covídicos imaginei que algum dia meus lábios seriam capazes de proferir um elogio ao Rio de Janeiro, mas há uma primeira vez pra tudo. Menos pra fornicar com a Dilma. As ruazinhas e vielinhas daqui, dentro e em boa parte mesmo fora da porção fortificada da cidade, lembram muito o complexo do Alemão/Jacarezinho, só com um pouco menos de balas perdidas, funk proibidão e, pior de tudo, claro, cariocas cruzando conosco. Mas as praias, que vergonhosa pobreza! A mais célebre é uma baíazinha de uns 100 metros de extensão, com uma areia suja, uma aguinha com ondinhas bosta e uns turistas lá dentro sem saber muito o que fazer. No meio da tarde encontramos no mapinha virtual uma praia menor e mais próxima do hotel e resolvemos ir lá dar uma salgada no saco. A coisa era uma entradinha de uns 20 metros entre dois blocos do calçadão, sem areia, cheia de pedregulhos e paralelepípedos, que pareciam colocados lá intencionalmente pra evitar que alguém a usasse. Se isto aqui é um dos principais destinos de veraneio de banhistas europeus, imagino o desbunde que sentem ao chegar a uma praia no Rio, e molhar a bunda entre o Cristo Redentor e o Carlinhos Bolsonaro.
Pra fechar o dia, mais uma caminhada (sim, agora já arregacei mesmo... mas numa dura solução de compromisso entre mim e minha adestradora, combinamos que pagaríamos um troquinho em uma e fugiríamos na outra, pra sentir dores diferentes, no bolso e na moral), com uma croata não exatamente fluente em inglês, e, portanto, com conteúdo um tanto superficializado por esta circunstância. Mas é impressionante, dezenas de guias turísticos, e todos eles passam pelos mesmo lugares e contam os mesmos fatos, numa coisa indistinta e intercambiável que me lembrou as excursões ao Uluru na minha segunda Australian tour, de 2019.
E depois, pra fechar a noite, cantoras líricas gordinhas cantando, com o microfone falhando, árias manjadas de óperas na pracinha da cidade, que é do que o povão proto-erudito gosta. 

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