14.09 - Jyväskylä


Missão cumprida, mano. E, conquanto bem longe do invejável, menos trágico do que eu antevia. 4h19, percentil 29. Já bem longe de meus dias de glória e aparentemente ladeira abaixo. Mas eu estaria conformado com ter terminado em 4 horas e meia, e terminei em menos de 4 e vinte. Foi uma corrida meio humilhada, na qual consegui ultrapassar apenas QUATRO pessoas, e fui sendo deixado pra trás por centenas de outras. Como terminei em 369 dentre 520, deve ter tido lá uma razoável quantidade de donas de casa gordinhas e sequelados de paralisia infantil que saíram atrás de mim e lá ficaram, a corrida toda.

Ficar correndo em círculos nem deu tanto no saco assim. Pra quem nunca esteve num lugar, passar quatro vezes por ele não chega a ser um tédio insuportável, ao contrário da vizinha do 56, que toda vez que o marido sai pro encontro da maçonaria, pressiona para eu dar aquela comparecida. O trajeto era bonito, com bastante verde e lagos, e, durante a corrida em si, a maior parte do tempo esteve nublado, com chão molhado, mas sem ou com pouca chuva. Ao contrário de antes e depois dela, que foi aquele inferno úmido na Terra mais uma vez.

Terminada a corrida, com hotel longe de tudo, ensopados de suor e, novamente, chuva, resolvemos recorrer ao chuveiro oferecido pelo evento. Que não era ali perto da chegada, mas lá lonjão, por alguma incompetência técnica qualquer. Teoricamente havia um serviço contínuo de shuttles pra levar a e trazer de volta do local, mas, após meia hora esperando, quase cuspindo as obturações de tanto bater os dentes de frio, o bicho ainda não havia aparecido. 
Então, pela segunda vez na Finlândia, tive aquela luminosa experiência de generosidade que (quase) renovou minha fé na espécie humana. Há acho que já umas duas décadas, chegando em Hensinki tarde da noite, quando por alguma razão já não havia transporte para a cidade, um finlandês nos viu desolados, encostados na parede da escada rolante, e nos ofereceu uma carona. Assim, do nada, dois completos estranhos. Não contente com isto, fez questão de nos deixar na porta do hotel. Ao perguntar, boquiaberto, como poderia retribuir a gentileza o rapaz sugeriu algo na linha do "pay it foward". Desde então, nunca dei carona a estranhos, mas até hoje carrego a culpa por não fazê-lo. Hoje, outro finlandês que também estava  na fila aguardando pelo shuttle fantasma resolveu tomar um táxi até o complexo aquático onde os banhos estavam terceirizados, e nos ofereceu uma carona. Fez questão de se recusar a dividir a conta. Ofereceu carona também de volta, se o shuttle continuasse não circulando. Apaixonei.

O vestiário do complexo aquático foi uma experiência à parte. Por motivo óbvio, não se permitia fotografias. Enorme, com centenas de armários e dezenas de chuveiros high tech enfileirados a perder de vista, a onipresente sauna ali no cantinho, e todo mundo peladão. Infelizmente, não era unissex.
Aí no Brasil, o Silvio Almeida passa a mão no joelho de uma ministra e o mundo cai. Aqui, os pais peladões trazem as filhas ciancinhas peladinhas pro chuveiro e sauna, elas ficam lá com o nariz na altura das pirocas de dúzias de outros marmanjos, e tá tudo bem, ninguém estranha nada.
Menção honrosa à Débora e o Martin, que nos acompanharam abnegadamente neste programa de índio chuvoso, escondendo corajosa e competentemente de seus semblantes a expressão do mais dolorido arrependimento!

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